segunda-feira, 30 de abril de 2012

Algumas palavras sobre ansiedade – Parte I


Nessa série de pequenos textos, vamos falar um pouco sobre este tema que é parte integrante da vida da maioria de nós: a ansiedade. Quem nunca sentiu aquela ansiedade que atrapalha tudo, ou conhece alguém que passou por uma situação como a seguinte:

Alberto era um ótimo funcionário da empresa em que trabalhava; competente, tinha conhecimento sobre o que fazia, costumava até treinar os funcionários novos que eram contratados. Um belo dia, o chefe de Alberto pediu para que ele fizesse uma apresentação simples, para explicar aos funcionários de outras filiais como era que o departamento daquela unidade funcionava. Ninguém melhor que o Alberto para a tarefa, uma pessoa que conhecia a fundo o assunto.
A apresentação foi preparada e, no dia, os colaboradores se reuniram no anfiteatro da unidade em que Alberto trabalhava para ouvir.
Então, ele começou a se sentir ansioso, “nervoso” como se diz: seu coração batia muito acelerado, sua boca estava seca, suava frio. Na hora de falar, gaguejou, “deu um branco”, não conseguia lembrar-se de tudo que havia ensaiado, nem mesmo daquilo que costumava fazer todos os dias. Envergonhado, só queria sair correndo dali e sumir.

As reações de Alberto são familiares a alguém aí?

Ansioso: e agora?
Quase todo mundo já passou por alguma situação de extrema ansiedade, seja uma apresentação na escola, na faculdade, no trabalho, uma entrevista de emprego, um encontro com o novo paquera... As possibilidades são muitas. E a ansiedade pode ser desencadeada por vários acontecimentos (estímulos) diferentes.

A ansiedade é uma resposta do nosso organismo frente a algum perigo. Evolutivamente, ela até ajudou nossa espécie a sobreviver, pois as alterações físicas provocadas por ela preparam o corpo para enfrentar melhor as ameaças que se apresentam, ou fugir delas. É o que chamamos de resposta de luta ou fuga. Vamos pensar em um dos nossos ancestrais primitivos caminhando pela floresta, quando de repente ouve um barulho próximo. Caso perceba a fonte do ruído como sendo algo perigoso, seu organismo vai sofrer uma série de alterações: seus batimentos cardíacos aumentam, bombeando mais sangue para os grandes músculos das pernas e braços, sua frequência respiratória aumenta para obter mais oxigênio, suas glândulas sudoríparas produzem mais suor para resfriar a superfície do corpo, suas pupilas dilatam... Caso seja um animal selvagem, ele vai estar mais preparado para enfrentá-lo (quem sabe conseguindo até levar o jantar para a caverna!) ou para fugir, caso o animal seja muito grande para ser enfrentado.

Ora, aqueles que tinham melhores condições de antecipar o perigo (para enfrentá-lo ou escapar dele) também tinham maiores probabilidades de sobreviver à situação e passar seus genes adiante. E ao longo do tempo, essas reações todas às ameaças foram repassadas até chegar a nós. 

A questão é que o modo de vida do homem também se transformou, e os perigos a serem enfrentados já não se tratam mais de animais selvagens na floresta. As ameaças à integridade enfrentadas pelo homem moderno são mais sutis – ameaça de perder o emprego, de “dar vexame”, passar vergonha, de tirar notas baixas, de “levar bronca” – mas os mecanismos de reação ainda são os mesmos dos ancestrais. E com a sofisticação dos processos mentais ocorridas ao longo da nossa evolução, aquelas reações físicas são também acompanhadas por reações psíquicas: o medo de falhar, os pensamentos de que tudo vai dar errado, de que todo mundo vai rir, de que vai esquecer o que falar... Tudo isso gera muita angústia e sofrimento. Quem é ansioso, sabe.

Ansiedade é sempre ruim?
Vamos pensar: as reações de ansiedade são parte do mecanismo que ajuda a antever um perigo, real ou potencial, e preparar o corpo para enfrentá-lo. Então, se for preciso escapar de verdade, por exemplo, de um cão raivoso solto pelas ruas, elas serão muito úteis! Foram bastante úteis para ajudar os já mencionados homens primitivos a sobreviver no ambiente perigoso onde se encontravam, inclusive.

O grande problema da ansiedade é quando nossos pensamentos entram no “piloto automático” e começam a antever cenários catastróficos, mesmo para as situações mais simples. O corpo se prepara para um perigo muito maior do que o real (pois as ameaças imaginárias não têm nenhum compromisso de ser coerentes com a realidade!), e a angústia proveniente acaba atrapalhando mesmo o desempenho em qualquer tarefa.

Então, como lidar com essa situação? E o que tem tudo isso a ver com o stress?

Essas são as questões que abordaremos nos textos seguintes. Aguardem!



#Update: a Parte II pode ser vista neste link aqui

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